A diferença entre um engenheiro e um escritor

Você sabe a diferença entre o escritor e o engenheiro?

Pois é, eu também sei. São muitas, muitas mesmo. No entanto, entre tantas as coisas que diferenciam as duas profissões, uma em especial é o propósito desse post: valor.

Engenheiros ganham mais porque são mais necessários (há controvérsias, eu sei, mas elas não vem ao caso para o que me proponho aqui). Engenheiros estão mais alinhados com as demandas de nosso tempo e entregam mais que escritores, segundo as orientações sócio-político-culturais do lugar onde vivemos (infelizmente, eu adiciono 🙂 Mas ainda assim, sem arte não se vive. A gente trabalha para consumir momentos de lazer, e entre os grandes prazeres da vida estão passear, comer bem, viajar, assistir a shows, filmes, peças e … ler.

Claro que engenheiros erguem pontes e tal, mas não quero entrar nessa discussão aqui. Por ora, quero apenas saber porque é tão natural que um cobre (beeem mais) por seus serviços enquanto é tão estranho que o outro cobre por eles. 

Entre as milhares de coisas que diferenciam um escritor de um engenheiro é isso: um presta um serviço e é pago sem questionamentos, enquanto o outro precisa responder constantemente a esse tipo de indagação:

download-1

Esse é o ponto do post, do título e da comparação nada-a-ver.

O lance é que recebi essa semana um recado irritado de uma leitora. Um dos meus livros está completo na plataforma gratuita Wattpad, do primeiro ao último capítulo (até a palavrinha FIM, mesmo). Acontece que eu, para estimular sua venda, escrevi um epílogo EXTRA e coloquei na Amazon, juntamente com o livro inteirinho (profissionalmente) revisado e editado. Avisei aos leitores, claro. Para aqueles que gostaram do livro, que tal comprá-lo e receber aquela cena de amor tórrida no final?

Eis que surge uma leitora bastante brava porque ousei cobrar pelo epílogo. (Imagine, audaciosamente passou pela cabeça lucrar em cima dos cinco meses em que morei no escritório escrevendo o livro).

Não pude deixar de relacionar o acontecido ao emprego do maridão. Imaginei ele prestando serviço – digamos, instruindo alguém sobre a manutenção de um maquinário -, concordando que explicaria tudinho sobre a máquina, de graça. Ele avisaria aos seus clientes, em algum momento, que apenas para aqueles que quisessem saber sobre o futuro da máquina, ou alguma curiosidade extra, seria cobrado R$ 9,90 pela informação.

Já que estamos sendo ousados podemos ir além e pensar no médico, por exemplo. Esse profissional faria o tratamento inteiro de graça, cobrando apenas likes e estrelas? ( E uma ou outra recomendação, claro)? Isso nunca aconteceria.

Os exemplos não são bons, eu sei  (na hora da necessidade, mil vezes um médico que um escritor do meu lado!!) mas eu queria só brincar de imaginar como seria prestar um serviço gratuito cobrando apenas likes ou avaliações.

Esquece, isso não existe.

No entanto, se você escreve, sabe que muitas vezes essa é a nossa realidade. Somos constantemente atacados por cobrar por nossas palavras. Montar um curso? Prestar Assessoria? Nem pensar.

Por que isso acontece, você já pararam para pensar?

A primeira coisa que passa pela mente é que é tudo uma questão de prioridade. Médicos são prioridade, assim com professores, engenheiros, dentistas e os caras que vêm consertar sua internet na sexta feira. Escritores infelizmente não são prioridade porque a arte não é valorizada no Brasil. Por que livros são dispensados em assaltos (pois é, ninguém rouba livros. Coleciono histórias sobre assaltos em que roubaram tudo, menos os livros que estavam jogados sobre os bancos. A melhor é uma do Paulo Coelho.) e porque o brasileiro sofre de uma profunda falta de dinheiro.

No entanto, há controvérsias sobre esse argumento do dinheiro, sabe? Uma amiga minha, empreendedora digital, diz que dinheiro não é empecilho para compra alguma. O que faz alguém se decidir por comprar algo (endividar-se, até) é justamente a prioridade. O quanto você quer ter aquela coisa, naquele momento?  Pensei bastante nisso, e mês passado, quando o dinheiro acabou antes do mês e a Sextante lançou um livro que eu estava esperando há séculos , descobri que minha amiga tinha razão (livros não são prioridade a menos que o livro seja O Caminho do Artista e você seja eu.)

Nossas prioridades são muito diversas: compramos um estojo novo mesmo estando no vermelho. Estouramos o cartão por causa de um show. Entramos no cheque especial por causa daquela blusa, ou daquele equipamento para celular.

(Minha opinião sobre a leitora irritada que não gostou de saber que havia um epílogo do meu livro por aí? Ela não estava lá muito interessada no meu livro).

Melhor livro ever

Outra coisa que passou pela minha cabeça é que estamos perto demais de quem consome nossos produtos. Trocamos palavras, comentários, ouvimos sugestões, pitacos e até ameaças! (Ai de você se shippar o casal errado!). Rola quase uma amizade entre autores e leitores, e aí misturar dinheiro nessa relação causa rancor e irritação.

Mas sabe quando você não está satisfeita com a sua própria explicação do porque não somos valorizados? Artistas em geral não são levados a sério no Brasil, a gente sabe, a menos que sejam respaldados por uma grande editora, grande emissora ou grande teatro, mas ainda assim acho que existem mais explicações por aí.

Por esse motivo decidi lançar essa pergunta para vocês (o público do blog é composto 100% por escritores): o que vocês acham? Por que somos atacados por cobrar pela escrita?

Vocês já foram questionados a respeito disso? Já ouviram falar sobre casos parecidos?

Eu adoraria saber mais sobre o assunto. Deixe sua opinião ali embaixo!

Um beijo e fiquem em paz ❤

Assinatura Karina

Deixe um comentário