Mitologia do tarô para escritores

“Existe em nós uma predisposição para reconhecer certos símbolos no mundo. O símbolo para o qual você está pronto evocará uma resposta em você.” – Joseph Campbell

 

Olá, escritores!

Depois de um longo e quente verão (que continua tenebroso, mas que agora voltou a ser passado em um escritório climatizado) retorno com uma série pra lá de legal: a jornada arquetípica do Louco.

De quem?

Do Louco. Desse carinha aqui:

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Pra quem não sabe NADA sobre tarô, o Louco é o “viajante” (no sentido literal mesmo,  não metafórico) que percorre as 21 casas representadas pelos Arcanos Maiores. Ele é o estranho herói dessa narrativa ainda bem pouco conhecida. Você talvez tenha ouvido falar desta jornada, talvez não. Mas certamente você sabe o que é o tarô, certo?

Vamos fingir que você não sabe pra eu poder explicar 🙂

O tarô é um conjunto de 78 cartas, dentre eles, 22 arcanos maiores. As cartas são coloridas, ricamente decoradas e escondem centenas de anos de histórias acumuladas entre seus traços. Por serem muito antigas, foram aglutinando histórias entre os desenhos. Incorporando sensações, empilhando sentimentos. No fim, as imagens do tarô acabam contando mais que simples histórias: com o tempo elas se transformaram em verdadeiros mapas que levam diretamente ao nosso interior.

Mas o que escritores tem a ver com o tarô? E que jornada os vinte e dois arcanos do tarô descreve?

Pense da seguinte maneira: cada carta do tarô representa uma estação, e cada estação marca uma etapa. Lembram da Jornada do Herói, que mostra o carinha passeando pelo mundo, matando dragões, encontrando mentores e chegando ao tesouro no final? (mais ou menos assim, claro). Então , a jornada do Louco faz algo similar. Só que ao invés de trilhar um caminho pelo mundo ensolarado, ele percorre os corredores labirínticos de nosso interior. Em outras palavras, a jornada do tarô é uma jornada pela alma.

A Jornada da alma é uma metáfora para o desenvolvimento da psique e o crescimento espiritual. Os arcanos representam diferentes fases da viagem, ou”postos de referência”. Cada um de nós, com suas vivências e heranças, estradas, cruzamentos e obstáculos, eventualmente (talvez não na ordem colocada) passa por esses marcos rumo a um ponto de chegada integrado. Similar (mas não exatamente igual) à Jornada do Herói, a Jornada do Louco é mais profunda e psicológica.

Mas Karina, como a Jornada do Louco (ou a da Alma) pode ajudar a minha escrita?

Escritores são eternos caçadores de imagens. Não qualquer imagem, mas aquele específica, carregada de emoção. Caçamos as imagens que ensinam sobre nós mesmos, sobre a condição humana e sobre a arte que viver exige (só depois tentamos colocar tudo isso no papel.) Como imagens arquetípicas, o tarô é um baú de tesouro cheio de histórias para serem contadas. Mas por que isso acontece?

Isso acontece porque as imagens do tarô são arquetípicas. Elas são a expressão daquilo que vem de nós, mas que são desconhecidas por nós mesmos. São estruturas sem conteúdo exato que representam eu, você e o mundo inteiro. São a narrativa da alma.

Através dos próximos posts vou tentar contar, pelo viés da psicologia, um tipo muito íntimo de jornada. Serão 22 postagens destinadas aos 22 arcanos maiores. Cada postagem, uma parada; cada estação, um marco no caminho. Vai ser super legal.

Que viagem!

Eu sei, você está achando isso tudo uma viagem. Você tem razão, é mesmo 🙂 Uma viagem na companhia de um carinha muito legal  – a carta número 0 do tarô.

O que posso adiantar é que a jornada que ele empreende é a da humanidade inteira. A minha, a sua, a do colega ao lado. Jornadas são metáforas de vida, elas simbolizam o caminhar pelos anos, abarcam em sua ideia os aprendizados acumulados, os tropeços que nos atrasam ou interrompem nossa caminhada, as encruzilhadas que nos enchem de esperanças e remorsos, os muitos pontos de chegada. Jornadas são uma forma de dar sentido ao etéreo, ao impalpável e ao (não tão) comprido caminho que damos o nome de vida. Ao mesmo tempo autoconhecimento e exercício criativo, a Jornada da Alma é uma forma original de olhar para nós mesmos (e talvez elevar a caracterização de nossos personagens a um novo patamar).

Pronto para embarcar nessa comigo? 

Mas atenção, uma última palavrinha: o tarô não será usado aqui como método adivinhatório. Não o trataremos  como sondagem do futuro. O que me interessa é o simbolismo evocativo das cartas, e como ele pode se tornar uma maravilhosa ferramenta de identificação projetiva.

Ai, Karina, agora pegou. O que seria identificação projetiva? 

A projeção é um mecanismo de defesa inconsciente pelo qual vemos nossas próprias características projetadas nos outros. sabe quando acusamos alguém de fazer algo que na verdade (e inconscientemente) nós mesmos fazemos? Isso acontece por que é difícil assumir certas coisas, dar o braço a torcer, entender o que se passa dentro da gente, etc. Por não termos acesso a esses conteúdos, acabamos reagindo a eventos de maneira inexplicável, como se tivéssemos um grande ponto cego em nossa cabeça (que não nos deixa ver o porque agimos e reagimos de tal maneira).

É aí que entra o tarô: segundo especialistas , eles conversariam em imagens com as imagens arquetípicas que guardamos dentro de nós. Tornam-se gatilhos projetivos que nos ajudam a entender a alma humana – inclusive a nossa. O tarô torna-se assim um espelho que capaz de refletir nossa realidade interna nem sempre vista.

Ufa, esse post de hoje rendeu Espero de coração que gostem do assunto e comentem!

No próximo post, o Louco 🃏!


Fonte:

  1. Hajo Banzhaf, O Tarot e a Jornada do Herói
  2. L.W. de Laurence, The Illustrated Key to the Tarot
  3. Sallie Nichols, Jung e o Tarô

 

Essa série está sendo postada no Wattpad. Você pode acompanhá-la por lá, se desejar, através desse link:  https://www.wattpad.com/story/132635621-a-jornada-da-alma-mitologia-do-tar%C3%B4-para

 

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