7 motivos para amar Margaret Atwood

Faz tempo que queria escrever sobre Margaret Atwood e não sabia como começar (na verdade eu já tinha escrito esse post em 2015 cheeeio de spoilers no meu blog desativado. Se quiser ler sobre o conto da Aia, clique aqui.)

O que falar da minha escritora favorita? Tudo que ela escreve é ouro sobre linha, tudo que ela publica me inspira e me faz ter (mais) vontade de escrever. Então eis que abro meu e-mail algumas semanas atrás e me deparo com uma compilação maravilhosa sobre seu estilo de escrita. Li, fascinada. Mas ao final, pensei: mas ela é mais que isso. Bem mais. As adaptações para a TV de suas obras literárias a trouxeram de volta com tudo, e ela foi apresentada novamente para uma nova leva de leitores. Acho que essa nova turma merece saber o que a faz tão boa, e como sua escrita, somada à sua presença na mídia e profunda inteligência, pode nos fazer crescer como pessoas e escritores.

Esses são os pontos que, para mim, a transformaram na melhor escritora de todos os tempos:

Margaret Atwood

1. Ela fala sobe feminismo como ninguém

Costumo dizer que O Conto da Aia foi o marco zero do meu feminismo. É claro que quando o li, na casa dos trinta, já defendia a igualdade entre homens e mulheres e não levava desaforo para casa de caras abusados. Mas Atwood, sem jamais usar a palavra feminismo, me pôs para repensar nosso lugar no mundo. Depois que li seu livro me assustei (mais!) com o grau de domínio sobre nossos corpos, como eles são subjugados aos desejos e deleites masculinos e como ser mulher no mundo é algo perigoso. Depois do Conto da Aia percebi com muito mais clareza que tudo que nos acontece (e fazemos) é um ato político, e o político é uma seara masculina. O que assusta em sua obra é que o feminismo não assume o tom otimista (e cá pra nós, pouco eficaz) do discurso “dá-lhe mulheres!”, mas algo bem mais complexo. Não basta otimismo, e meu Deus, apontar dedos para a outra metade do planeta e acusá-los de monstros em potenciais também não. “A vida não é simples, a opressão não é simples, e o feminismo também não é simples. […]  O trabalho de Margaret Atwood  […] é uma das melhores explorações da discriminação, opressão, violência (tanto física como não física) a que as mulheres são submetidas. Você ficará com raiva. [Sua escrita] o(a) deixará desconfortável. Fará você pensar. E, no final, você provavelmente se tornará feminista.” (by Bustle)

2. Ela é mais inteligente que nós (oh, bem mais)

Eu só entendi sua sagacidade quando li mais que um livro dela. Atwood escreve em camadas, como se compreendesse tão bem sua arte que por pouco – ou talvez menos que pouco – não percebemos no final que fomos enganados desde o começo. Estava tudo às vistas e não vimos – coisa de gênio. Ah, e ela é engraçada. Eu sempre acho o humor afiado coisa de gente inteligente. O final de O Conto da Aia é daqueles de nos arrancar uma risada nervosa. A do tipo que morre nos lábios e nos paralisa por um segundo. Ela tira sarro da cara de seus críticos, da sociedade masculina, da academia, do seu próprio livro. Ao “diminuir” sua própria obra, ela consegue transformar a última folha do livro em um gesto simbólico, mais ou menos como a flechada final de Katniss em Jogos Vorazes, sabe? Enfim, ninguém é mestre por acaso. A mulher é gênio.

3. Ela vê e descreve o mundo de uma forma que o torna palpável para você

Não há página em meus livros (seus livros) que não estejam marcadas, com post-its colados ou com quinas dobradas. Heresia, eu sei, mas uma do tipo justificável. A escrita de Atwood tem textura. Ela é 3D, tem cheiro, invoca sentimentos e lembranças, nos faz ir lá trás ou pular lá na frente, como um recurso ultramoderno de realidade virtual. Ela não tem o ritmo frenético de outros escritores mas compensa com algo que nem todos tem. E suas metáforas parecem vir de um lugar especial, são traduções daqueles pensamentos bobos ou complexos – rápidos como relâmpagos – que cruzam nossa mente, vão embora e nunca mais voltam. Mas na escrita dela eles voltam, e você se pega pensando: achei que ninguém mais pensava coisas assim!

4. Ela foi a primeira autora escolhida para o Future Library Project

O Future Library Project é “uma obra de arte pública que visa colecionar um trabalho original de um escritor popular todos os anos de 2014 a 2114 e compartilhá-los com o mundo somente depois dessa data.” (Wikipedia)  Os manuscritos estão em exposição em uma sala da Biblioteca Pública de Oslo mas só poderão ser lidos em 2114. O projeto, um tipo de  “cápsula de tempo,” é um legado que deixaremos para nossos filhos e netos. Quem a conhece – e sabe o quanto o meio ambiente é importante para ela – entende por que ela foi a primeira a ser convidada. “Quão curioso é imaginar sua voz, escrita, de repente acordada depois de tanto tempo silenciada?“, Atwood teria dito a respeito. Eu daria tudo para estar por aqui nessa época, e ver se suas previsões foram tão acertadas como foram as do Conto da Aia.

5. Ela adora falar sobre sobrevivência

Alguns de seus trabalhos, como a trilogia MaddAddam, enfocam a forma como as pessoas sobrevivem em épocas pós-apocalípticas. O mesmo acontece com o Conto da Aia. Mas o tema não está só nas obras onde o mundo e outro tomou o seu lugar: a sobrevivência também é abordada nas relações cotidianas, na maneira pela qual os seres humanos devem sobreviver em termos mais gerais. O que fazer depois de um terremoto, uma guerra ou uma tempestades de gelo? Eu tenho vááários pensamentos assim. Amo filmes de catástrofes, apocalipses zumbis, ataques alienígenas. Gosto mesmo é de imaginar se, caso houvesse um inimigo externo e comum a todos nós, continuaríamos tão mesquinhos e patéticos como somos hoje. ( Aliás, acompanhando The Walking Dead, a resposta é sim, continuaremos idiotas). Mas com sua inteligência, Atwood mostra facetas nossas que eu não conseguia ver. É muito legal ver uma mente tão brilhante interessada pelo que interessa você.

6. Ela empresta  a voz para um aplicativo de “fitness pós-apocalíptico” chamado Zombies, Run!

Zombie, run! é um jogo que você enfia em um dispositivo portátil e coloca nos ouvidos – não é visual, é para ouvir, como rádio – e pede que você saia correndo. Correr é chato, certo? Mas não quando se tem uma turma de zumbis correndo atrás de você. Em algum momento ainda tranquilo do jogo, você está garimpando coisas para garantir a sua sobrevivência e a de seus companheiros – água, mantimentos, etc – quando alguém avisa pelo rádio: “Oh não, cometi um erro terrível, há zumbis ao seu redor! CORRA!”  E você corre como louco para salvar a vida, e só para quando fica livre dos zumbis.

Já pensou?!

Quando perguntada se já jogou o jogo, Atwood responde que fez melhor: “eu apareço em um dos episódios da série 2, naquele em que eles perderam contato com o Canadá há meses e meses, E finalmente fazem contato comigo na CN Tower em Toronto, que é bastante alta e os zumbis não conseguem alcançar. E descrevo o que está acontecendo no Canadá, ou seja, que todo o governo foi zombificado…”

7. E para finalizar, ela está no Wattpad!

Mas Margaret, […] você é um ícone literário no auge de seus poderes; está escrito isso na capa dos seus livros!Por que está se esgueirando com um site de compartilhamento de histórias abarrotado de romance, vampiros e lobisomens? Você deve endossar a Literatura, com L maiúsculo! Volte para o pedestal!” (TheGuardian)

Mas ela não voltou, porque não é dessas. Ela vai onde o povo está, e eu adoro vê-la ali, tão pertinho. Acho que minha admiração por ela só aumentou. Ela posta poesia, livros e até um co-trabalho sobre zumbis com a mesma garota do app maluco Zombies, run!

Para justificar sua incursão na plataforma, ela opta pelo simples: “Você é livre para explorar, para ser cobaia e esticar os seus limites.”[…]  Para ela, o lance não é sobre expor de graça seus trabalhos e entrar em desacordo com seus editores; para ela é uma questão política, como todas as outras: “As pessoas não estão mais lendo e escrevendo, elas estão optando por jogar videogames. E se não encorajarmos jovens leitores e escritores, não vamos ter [leitores e escritores] mais tarde. […] Como incentivamos a alfabetização neste mundo? […] A alfabetização é essencial para quaisquer vestígios da democracia que temos.”

Se você quer seguir Margaret no Wattpad, clique aqui!

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Margaret Atwood no Wattpad

 

 

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