Histórias são um estado de espírito

Oi escritor(a),

Essa não é uma correspondência para um mundo de gente, ela foi escrita só para você. Você que está na frente do computador ou do bloco de papel olhando para o vazio, sem saber se continua a escrever (apenas hoje/para sempre) ou não. Você sente a vida pedindo para ser narrada, mas não vê muito sentido em compartilhar suas ideias em um mundo tão barulhento e caótico.

Todo mundo se pergunta o mesmo, eu acho.

Já me perguntei isso também. Já lutei com o papel, contra a escrita, sem entender esse processo que ora parece tão simples, ora tão complicado.

Mas nos últimos meses algo mudou. Eu passei a me conectar com mais profundidade às palavras, e ver a escrita de outra forma. O que aconteceu foi incrível, por isso estou aqui para compartilhar.

Aconteceu, na verdade, de uma hora para a outra. Eu estava na cozinha, lembro como se fosse ontem. O feijão estava cozinhando no fogo, e a pia estava cheia de pratos sujos. A cabeça já andava a mil, mas de perguntas, e não respostas.

Foi então que eu entendi.

Em um momento eu não sabia bem o que fazer com essa vontade de escrever, no outro estava tendo uma epifania. Um momento-aha, como se fala na psicologia. Uma ideia completamente nova caiu no meu colo, vindo do mais improvável dos lugares.

E nos dias que se seguiram, seguindo a trilha que surgiu do nada, achei uma maneira de unir minha especialidade (psicologia) com minha escolha (a escrita) de um jeito inesperado. Larguei tudo que estava fazendo na época para pesquisar sobre o assunto. Os livros-referência eram escassos, e me virei em quatro para fazer um curso oferecido no outro lado do mundo. A jornada pelo assunto trouxe resultados incríveis, e estou  cada dia mais convencida de que tudo que fiz até hoje, no que concerne à escrita, foi feito sob o ângulo errado. Uma nova era começava para mim, e em breve, – se você tiver interesse – para você também.

Por enquanto vou guardar os planos para quando tiver algo concreto e testado (não se preocupe, você será o primeiro a saber), mas posso deixar aqui, hoje, a ideia que deu início a tudo. A fagulha que, uma vez acesa, incendiou meus neurônios e me mostrou caminhos antes inimagináveis.

Espero que essa dica comece a fermentar algo em você também. Que te mantenha, assim como tem me mantido, em um estado de profunda reflexão frente às palavras, o que acaba refletindo no papel.

E o que eu tenho a dizer é:

tire a sua escrita para dançar.

A partir de hoje, e todos os dias. Assuma um compromisso para toda a vida com ela.

Como escritor, você é aquele menino de catorze anos apaixonado pela escrita, aquela menina da sua sala. Vocês finalmente se encontram em algum lugar da estrada, e você sabe que por trás dos olhos doces e da modéstia, ela tem um poder sem igual. Sua escrita sabe do seu potencial, e acredita em você. Só você pode escrevê-la.

Tire-a para dançar naquela festa onde as luzes estão calmas e o som quase inaudível. Na verdade, tire-a todos os dias para dançar como se fosse a primeira vez.

Você fez um “arranjo” com o seu censor interno, aquele vigia carrancudo que vive soltando as frases que te abatem por dias. Ele promete dar um tempo, porque até ele está comovido por aquela dança.

Você estende a mão, e ela vem. As luzes chuviscam no chão azulado, o salão está vazio, mas vocês dois estão lá. Olhos no olhos, conectados. Você dança com ela com humildade. Não tenta dominá-la, enganá-la ou seduzi-la. Se tentar segurá-la, ela desaparecerá. Sua relação com ela precisa ser de entrega, e não de controle. De completa capitulação.

A escrita é o seu primeiro amor. E você, para ela, é o canal de expressão que a fará viver. Ela é benevolente e poderosa, e em troca de sua delicadeza criará um mundo onde você irá morar.

Entre na escrita como quem dança aquela dança. Lembre dos seus catorze, e daquela menina tímida que nunca aparecia nas festinhas, e um dia resolveu aparecer. Se conseguir reproduzir aquele sentimento toda vez que sentar na frente do caderno, ela te recompensará por ainda gostar dela, mesmo tantos anos depois.

Ela pode no fim da noite, inclusive, te beijar.
Com amor,

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2 comentários em “Histórias são um estado de espírito

  1. Excelente (poético) texto! Fui fisgado pelo título… apreciei (e desde então, não consigo mais parar de refletir sobre o) conteúdo e aguardarei (escondendo a ansiedade) a continuação…

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